Um Lugar Chamado "Inspira" com Andrea Alvares


Por Rizzo Miranda

Eu mais que admiro Andrea Alvares. Sou fã mesmo! Andrea tem uma carreira maravilhosa. Uma vez brinquei com ela sobre o cargo que liderava na Natura e que envolvia tudo de bom que uma empresa poderia ter: inovação, sustentabilidade e marca. Uma liderança gigante para raras pessoas. Uma inteligência destacada.

Membro do board do Instituto Ethos entre tantas atividades, ela é nosso “Inspira” de hoje. Como sempre, 2 respostas com sua privilegiada forma de pensar o mundo. Andrea, você é sempre inspiradora!

Rizzo: sua trajetória é marcada por inovação e, em especial, em um contexto especialmente debatido, como ESG. O planeta emite sinais severos. As marcas estão fazendo seu dever de casa? No volume necessário?

Andrea: Há de tudo no mundo de hoje. Marcas e empresas que genuinamente estão buscando solucionar os impactos negativos de suas cadeias de valor e seus modelos de negócio, como marcas e empresas apenas com o discurso da mudança sem ações concretas que demonstram seu real compromisso com a mudança, como também aquelas que não se importam e não fazem nada. Agora, nada está ocorrendo no volume, intensidade e velocidade necessários para darmos conta dos desafios diante de nós. Os relatórios que acompanham o progresso com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) e mesmo o Global Stocktake (inventário dos compromissos dos países na agenda climática comparado às suas contribuições nacionais determinadas), foco da última COP em Dubai, mostram que estamos longe de onde deveríamos estar na inflexão das curvas de impacto climático, o que traz consequências terríveis não apenas climáticas, mas também sociais, afetando quem já é mais vulnerável. Ainda há tempo de reverter os piores cenários, mas já passamos de alguns limites cujos impactos serão, (já estão sendo em alguns casos), bem ruins para a qualidade da vida na terra, infelizmente.

Rizzo: Você sempre esteve e está em lugares de lideranças e em boards de empresas transformadoras, as empresas efetivamente vivem sua contemporaneidade bem equilibrada entre mercado e impacto social?

Andrea: A consciência de que tudo é interdependente e que todos nós, pessoas e empresas, precisamos ser responsáveis pelos impactos que nosso modo de vida produz no planeta e nos outros indivíduos e espécies. É entender que empresas fazem parte de sociedades que, por sua vez, estão dentro de um planeta e que essa compreensão deve orientar as prioridades quando desenhamos planos estratégicos, mas também e, principalmente, quando tomamos decisões no dia a dia em nossos negócios. É complexo? Sem dúvida. Mas possível. Talvez não todas as vezes, mas muitas vezes é sim possível, se colocamos em perspectiva todas as variáveis que efetivamente devem ser consideradas e temos consciência de que não dá para continuar privatizando ganhos e socializando os impactos negativos que geramos em uma busca por crescimento infinito. A conta simplesmente não fecha no longo prazo e volta pra todos nós, como já estamos vendo acontecer.

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